terça-feira, 11 de agosto de 2009

Saiu na Imprensa

À minoria, a censura! (Ou: Como Ciço Almeida – O Grande Humilde – despreza eleitores)

O político Cícero Almeida nunca me enganou. Jamais votei nele. Não votei, não voto, não votarei nem votaria, se mais tempos verbais existissem. Ele é, hoje em Alagoas, o principal ator de um teatro sombrio que mistura populismo, hipocrisia e truculência.

Assim como Lula, ele faz de sua condição originariamente humilde a maior das virtudes. Ser pobre, na boca desses dois populistas, virou sinônimo obrigatório de dignidade. Isso é tão verdadeiro quanto afirmar que pobreza é causa necessária do cometimento de crimes ou que mula sem cabeça existe. E mais: a tal “origem humilde” passou a ser licença para falar bobagens e até para praticar ilegalidades ou imoralidades. Se alguém ousa argumentar contra atitudes dos valentões, logo está contra o “progresso social” e o “povo”, em nome dos quais tudo está permitido. É deveras execrável que alguém, aqui e alhures, tenha se juntado à classe empresarial para se eleger e, depois, valha-se do passado pobre para justificar qualquer coisa. Não que o problema esteja, como pode parecer à primeira vista, na união ao empresariado; ele está, isso sim, na essência estúpida e oportunista dessa gente!

No caso de Almeida, a truculência beira as raias da ameaça: “Vou processar este jornal”, esbravejou o valente, referindo-se ao então semanário Esse, que estampara uma reportagem de capa do jornalista Odilon Rios: “MATUTO RICO”. Até hoje, estamos sem saber como “O Grande Humilde” doou exatos R$ 132.403 (cento e trinta e dois mil, quatrocentos e três reais) a vários candidatos. De outro lado, mais recentemente, reclamou das cobranças feitas pelo vereador Ricardo Barbosa (Psol), que deseja saber – e eu também – como um “homem de origem humilde”, ex-operador de rádio, ex-taxista, ex-agricultor, movimentou em conta bancária PESSOAL pouco mais de R$ 5 milhões. Reagiu: “Com poucos votos, o Ricardo Barbosa fala demais”. Quando o comentário não vem de forma raivosa, vem sem pé nem cabeça: desde quando a quantidade de votos determina a legitimidade para falar? Esse fascismo velado é perigoso demais! E o fascismo, como sabem, diferentemente do comunismo, consegue circular com mais facilidade e se fazer popular.

O prefeito-forrozeiro avança na ofensiva: “Ele é um crítico desta administração que veio de carona”. Agora aprendi: só pode ser crítico do Executivo quem foi bem votado, ainda que esteja ali no Parlamento, em pleno gozo dos direitos, segundo as regras do jogo democrático. Se eu fosse o prefeito, transformaria isso em projeto de lei, inclusive estabelecendo o quantum necessário. Quanta ignorância e prepotência! Mas, vocês sabem, o Ciço sempre se supera: “Nem a vereadora Heloísa Helena faz críticas tão pesadas à administração municipal. Ele tem sido um vereador que se acha no direito de criticar a minha vida pessoal”. Pronto! Fica mais clara a ideia de que só está autorizado a fazer “críticas tão pesadas” (?!?!?!) alguém que tenha votação expressiva. Os demais se contentem em falar sobre as canções do prefeito, zabumba, triângulo... Ademais, notem uma MENTIRA - um SUBTERFÚGIO RETÓRICO - tão comum em política: recorrer ao cínico e fajuto argumento da “minha vida pessoal”. Renan fez o mesmo quando da crise que o derrubou da presidência do Senado, e até hoje não se sabe por que aquele dinheiro vinha duma empreiteira. Mas voltemos ao Ciço. Vida pessoal uma ova! A única coisa de pessoal que existe nessa história é sua conta bancária, que recebeu mais de R$ 5 milhões. Além de impulsivo, ele parece carecer de assistência jurídica (sem demérito de quem atue em seu favor), pois ao insistir que se tratou de “doação de campanha” termina por confessar um crime: “Ele é obrigado a abrir uma conta específica para a campanha”, declarou Barbosa ao blog do Odilon Rios e confirmou a este blog há pouco por telefone. Por falar nisso, onde está o Ministério Público?

No ápice do mais abjeto narcisismo, o hoje prefeito, indiciado na Operação Taturana, advertiu: “Se ele tentar se promover em cima de mim, aí é que ele não se elege mais nunca”. É certo que políticos em geral costumam não polemizar com adversários altamente populares (e, por isso, quase sempre pretensiosos), o que tolamente só os ajuda a blindar-se, mas Ricardo Barbosa não deve dar a mínima para isso. Mais cedo ele nos confirmou por telefone que amanhã, terça-feira, vai apresentar um requerimento pedindo explicações ao senhor prefeito. E faz muito bem, cumpre com um de seus deveres como parlamentar. Eu, que não sou candidato nem político profissional, também dou de ombros para Almeida. Posso desnudá-lo aqui sem receio eleitoral algum. Faço-o profissionalmente. A vida pessoal dele não me importa, salvo nas imbricações que tiver com a coisa pública, como é o caso.

Ah, reitero: quem usa a vida pessoal passada – por mais digna que ela tenha sido (não estou dizendo que Almeida se enquadra aqui) – como escudo para tudo, sobretudo para afastar qualquer crítica ou investigação acerca do que interessa ao coletivo, lança mão de vigarice e precisa ser denunciado! Não sejamos lenientes com essa prática terrível, com esse comportamento medíocre. Uma coisa é nos solidarizarmos com quem já sofreu muito nesta vida ou ainda sofre (chega a ser uma obrigação moral e social, penso); outra, bem diferente e nada louvável, é fazer proselitismo com base nisso, encampando um discurso da própria miséria.

Por fim, antes que o prefeito pense em fixar números para determinar, na imprensa, qual articulista pode referir-se às suas prováveis lambanças, aviso que este blog tem o condão de carregar algumas Heloísas Helenas.

E aí, topa, Ciço?

Por ora é isso. Forte abraço!

Fonte: Blog do Yuri Brandão - Portal TUDO NA HORA

Um comentário:

  1. Excelente artigo do Yuri Brandão. Infelizmente nas terras dos senhores de Engenho tudo pode.Saiba mais sobre o professor Yuri Brandão no Blog Alagoas Real e
    Leia ainda o artigo que sumiu misteriosamente do portal tudo na hora em 13 de agosto de 2009 : Uma luz no fim do lixo: A providência inútil de Cícero Almeida

    Um abraço
    Mário Augusto

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